Perques Leonel Batista

Eu cresci em uma época em que o jornalismo significava profundidade, análise e investigação minuciosa. Naquele tempo, lembro-me das manhãs em que pegava o jornal com ansiedade, sabendo que cada página traria algo substancial, algo que me faria pensar, refletir e questionar.

Além disso, admirava os jornalistas, que traziam à luz o que estava oculto, desafiavam o poder e, com suas palavras, davam voz aos silenciados. Hoje, ao contrário, ao observar as novas formas de jornalismo que surgiram e que cabem dentro de um smartphone, sinto uma mistura de tristeza e inquietação.

O conteúdo parece ter sido reduzido à sua forma mais superficial, quase que como se as notícias tivessem sido esvaziadas de seu significado original.

Entretanto, o que antes representava uma investigação cuidadosa, agora muitas vezes não passa de manchetes rápidas, de cliques fáceis e de informações que evaporam tão rápido quanto surgem.

Essa mudança, que percebo, tanto como causa quanto consequência da sociedade atual, reflete uma transformação mais ampla. Vivemos numa era onde o imediatismo e a conveniência reinam. Consequentemente, queremos tudo para ontem, consumimos informações em porções minúsculas, sem tempo para mastigar, quanto mais digerir.

Dessa forma, o jornalismo que se adapta a essa demanda se tornou raso, com a profundidade de um pires. Me pergunto o que perdemos com isso. As nuances, as histórias por trás das histórias, as verdades inconvenientes que não cabem em 280 caracteres… Infelizmente, tudo isso se  torna sacrifício em nome da velocidade e da acessibilidade.

Assim, no processo, o jornalismo, que deveria ser o guardião da verdade, muitas vezes acaba reforçando a superficialidade da nossa época. No entanto, acredito que ainda há esperança. Assim como em tantas outras fases da história, talvez estejamos apenas passando por um ciclo.

Em algum momento, reconheceremos o valor da profundidade, da reflexão e do jornalismo que vai além de uma rápida olhada na tela do celular. Enquanto isso, busco raras joias que ainda surgem no mar de superficialidade, acreditando que elas, de alguma forma, reverterão esse empobrecimento que tanto me preocupa.

Perques Leonel Batista

Perques Leonel