A controvérsia em torno do treinamento comportamental reflete um desafio maior enfrentado pelos municípios que operam com orçamentos restritos.
Monte do Carmo, TO – A recente contratação de um treinamento comportamental para servidores, realizado pela Prefeitura Municipal de Monte do Carmo, tem levantado fortes questionamentos sobre a aplicação de recursos públicos no município.
Com um investimento de R$300.000,00 – dos quais R$240.000,00 já foram pagos –, a ação, financiada por uma emenda parlamentar, está no centro de um debate que mistura intenções de modernização com críticas sobre prioridades e transparência.
Processo de Seleção Questionado
A Secretaria Municipal de Administração optou por contratar a SRV Treinamentos Públicos Ltda. para ministrar um curso que abordaria inteligência emocional, liderança e comunicação assertiva por meio do método SERVIR.
Entretanto, a escolha se deu por inexigibilidade de licitação, o que, segundo críticos, fragiliza a credibilidade da administração. “Os documentos não esclarecem por que a empresa foi a única opção, gerando suspeitas de favorecimento e falta de rigor no processo”, afirma um representante da oposição.
Custo Elevado e Alternativas Possíveis
Além do processo de contratação, o custo do treinamento chamou atenção. O investimento alcançou cerca de R$60.000,00 por dia, equivalendo a aproximadamente R$7.500,00 por hora.
Em comparação, especialistas destacam que o mesmo valor poderia ser utilizado para construir três casas populares ou adquirir 1.200 cestas básicas, benefícios diretos para a população que enfrenta carências em saúde, educação e infraestrutura. “Cada real investido em uma área com tantas demandas deve ser aplicado com máxima eficiência, sobretudo em municípios de pequeno porte”, ressalta um analista de políticas públicas.
Cronograma Apressado Levanta Dúvidas
O cronograma da operação também foi alvo de críticas. Os recursos foram empenhados em 12 de março de 2025, liquidados em 19 de março e os pagamentos concluídos em 24 do mesmo mês. Essa rapidez, que pode ter sido motivada por prazos orçamentários, suscita dúvidas sobre a análise dos reais benefícios proporcionados pela capacitação.
Segundo a oposição, a pressa na execução pode ter comprometido a avaliação criteriosa dos resultados do treinamento, deixando em segundo plano a eficácia do investimento para melhorar o atendimento à população.
Intenções vs. Resultados
Embora a administração defenda que a iniciativa visa aprimorar a capacitação dos servidores e, consequentemente, melhorar o atendimento público, a ausência de dados concretos sobre os resultados torna difícil medir o impacto da ação. Sem um relatório detalhado que comprove melhorias mensuráveis, o investimento corre o risco de ser visto como um gasto supérfluo em um cenário de recursos limitados.
Fiscalização e Transparência: Exigências da Sociedade
A controvérsia em torno do treinamento comportamental reflete um desafio maior enfrentado pelos municípios que operam com orçamentos restritos: a necessidade de uma gestão transparente e eficiente. A sociedade, bem como os órgãos de controle, vem exigindo uma prestação de contas mais clara e a disponibilização de relatórios que demonstrem o retorno efetivo dos investimentos. “A transparência não é luxo, é uma obrigação para garantir que cada centavo do dinheiro público seja aplicado para o bem-estar da população”, afirma um fiscal de contas local.