Por Perques Leonel Batista – Foto: Divulgação/internet 

A pergunta retórica que abre este ensaio – “Qual a função de um Estado que apreende um veículo com licenciamento atrasado, mas não retira um invasor de terra?” – provoca uma reflexão profunda sobre a atuação e as prioridades das instituições públicas. Em meio a um cenário de desigualdades e disputas sociais, a crítica sugere que o Estado, ao concentrar seus esforços em infrações menores, acaba por negligenciar questões que afetam diretamente a dignidade e os direitos dos cidadãos.

Em primeiro plano, ao apreender um veículo com documentação vencida, o Estado demonstra uma postura de rigor em relação a pequenas infrações administrativas. No entanto, essa ação contrasta fortemente com a aparente omissão diante de invasões de terra – problemas que, ao atingirem famílias e comunidades vulneráveis, revelam a ausência de proteção e justiça social. Dessa forma, questiona-se se a função do poder público deve privilegiar penalizações superficiais em detrimento da resolução de conflitos de ordem social.

Além disso, o ensaio destaca outra contradição: “Que prende um manifestante, mas solta um homicida?” Essa indagação evidencia uma distorção nas prioridades do sistema de segurança pública. Ao prender indivíduos que expressam descontentamento legítimo, enquanto perdoa ou ignora crimes graves, o Estado não apenas desvaloriza o direito à manifestação, mas também mina a confiança dos cidadãos na própria justiça. Em outras palavras, essa prática pode ser interpretada como uma demonstração de seletividade que prejudica os honestos e fortalece a impunidade.

Ainda, o questionamento sobre obrigações fiscais e benefícios previdenciários – “Que faz pobre pagar IR e paga seguro reclusão para bandidos?” – aponta para uma distribuição desigual dos encargos e dos benefícios estatais. A crítica aqui é dupla: primeiro, evidencia a injustiça de uma carga tributária que recai de forma desproporcional sobre os mais vulneráveis; segundo, denuncia um aparente favorecimento daqueles que, muitas vezes, já se encontram em situação de conflito com a lei. Assim, o texto convida o leitor a refletir sobre a finalidade das políticas públicas e a efetiva proteção que o Estado deveria oferecer a toda a população.

Consequentemente, a série de indagações que compõem o poema-jornalístico expõe uma realidade onde o poder público, ao agir de forma seletiva, parece lesionar os cidadãos honestos. Ao mesmo tempo, tais ações podem fomentar um sentimento de descrença e alienação, que enfraquece a coesão social e o contrato de confiança entre o Estado e a sociedade. Ademais, a escolha de penalizar infrações menores enquanto se omite em questões mais graves revela um desequilíbrio que merece atenção e debate público.

Portanto, é imperativo que as instituições repensem suas prioridades. A função do Estado, em sua essência, deveria ser a promoção da justiça e a proteção dos direitos fundamentais, sem distinção entre pequenos infratores e grandes desmandos sociais.

Em síntese, o ensaio nos leva a questionar: qual o real propósito de um Estado que, ao lesar os honestos, falha em defender aqueles que mais precisam de sua intervenção? A resposta a essa pergunta é crucial para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada, onde o poder público atue de forma equânime e efetiva na promoção do bem comum.

Perques Leonel Batista, especialista em políticas nacionais e análise de discursos políticos.
Perques Leonel Batista é especialista em políticas nacionais e análise de discursos políticos. É associado a atividades políticas no Brasil e também conhecido por suas reflexões sobre o jornalismo moderno.
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