Mesmo diante de tantas denúncias, pouca coisa mudou no dia a dia do Judiciário tocantinense. Alguns magistrados foram afastados, mas continuam recebendo seus gordos salários.

A cerimônia de posse da nova mesa diretora do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins (TJTO), no último dia 3, poderia ter sido um evento protocolar e discreto, como tantos outros. No entanto, a ex-presidente da Corte, desembargadora Etelvina Maria Sampaio Felipe, usou sua fala de despedida para criticar a cobertura da imprensa sobre a Operação Máximus, investigação da Polícia Federal que expôs um suposto esquema de venda de sentenças no Judiciário tocantinense.

A comparação equivocada com o Coliseu de Roma
Ao discursar, a magistrada afirmou ser contra a forma “espetaculosa e midiática” com que os membros da Corte foram tratados. Sentiu-se lançada à arena do Coliseu de Roma, onde pessoas eram jogadas aos leões para o entretenimento da população. A comparação, no entanto, não poderia ser mais equivocada.

No Coliseu, execuções eram punições sumárias, muitas vezes sem qualquer critério de justiça. Já na cobertura jornalística do escândalo envolvendo magistrados, o que se vê são fatos. Os veículos de comunicação apenas noticiaram informações contidas no inquérito da Polícia Federal. Não há distorções, tampouco invencionices. Há provas. Há evidências documentais, depoimentos e gravações que indicam uma complexa engrenagem de corrupção.

O esquema milionário por trás da investigação
A Operação Máximus revelou um esquema milionário que, segundo as investigações, envolvia a revogação de prisões mediante pagamento, decisões favoráveis a hospitais e empresas, manipulação de precatórios e até a anulação de ações de improbidade. A Polícia Federal identificou 14 casos distintos de corrupção envolvendo desembargadores e juízes. O que significa isso na prática? Um jogo de influência em que decisões judiciais, que deveriam ser baseadas na lei e na justiça, se tornaram moeda de troca para favores escusos.

E as consequências? Praticamente nenhuma
E o que mudou após a deflagração do escândalo? Muito pouco. Magistrados afastados continuam recebendo seus salários integralmente. Juízes investigados seguem despachando. A sensação de impunidade persiste. Um cidadão comum, sob suspeita de um crime de tal magnitude, provavelmente estaria preso, enfrentando toda a morosidade do sistema judicial sem as mesmas garantias.

Vitimização que não convence
A tentativa de vitimização dos magistrados citados na investigação não apenas soa deslocada da realidade, mas também expõe o abismo entre o Judiciário e a sociedade. O Brasil é um país em que o princípio da igualdade perante a lei parece não valer para todos. Se o cidadão comum precisa lutar para provar sua inocência, desembargadores podem seguir suas rotinas como se nada tivesse acontecido.

A imprensa apenas cumpre seu papel
Criticar a imprensa por noticiar fatos de interesse público é ignorar o papel fundamental do jornalismo em uma democracia. Como disse o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, “quem não quer ser criticado, fique em casa”. A vida pública não é para aqueles que querem se esconder sob o manto da impunidade.

O Judiciário prejudica sua própria reputação
O Judiciário tocantinense não precisa da imprensa para prejudicar sua própria reputação. Ele faz isso sozinho, ao não dar respostas à altura das denúncias e ao tentar desqualificar o trabalho de quem cumpre o dever de informar. Afinal, a imprensa não cria escândalos. Apenas revela os que já existem.

Redação